O Nosso Pregão

Em silêncio Grito este Pregão,

Uns ouvem, outros não

 

Tenho carta de peão,

Conduzo nos passeios, contra carros em contra mão,

Não vejo a sinalização, ela existe?, talvez não

 

O tempo é bem escasso, aguardo na fila com embaraço,

Sem lugar próprio ou reservado,

Enquanto espero ouço música assobiada

Cantada pela sociedade da vida airada

 

Em silêncio Grito este Pregão,

Uns ouvem, outros não

 

Empregos e Ocupações, não tenho,

Não sou próprio, sou “perrenho”,

Não tenho ar aprumado, não finjo ser artista

Não posso trabalhar no negócio do engravatado contrabandista;

 

Cidadão também não sou,

Acabou o tempo, será que assinou?

Sem cartão, o que apresento,

Nenhuma pensão e muito lamento

 

Em silêncio Grito este Pregão,

Uns ouvem, outros não

 

O relatório do doutor, revela controverso apanhado

Alega que as dores que tenho

São fruto do meu bom estado

Estado esse que assim poupa, alguns euros no orçamento

Ajudem-se primeiro os banqueiros, em regime de empobrecimento

 

Para viver, gostava de estar, talvez na escola?

Quem sabe num Lar,

Num sítio próprio para o meu vagar

Em casa não posso, não tenho condições

A família é rica, vivemos de ilusões

 

Em silêncio Grito este Pregão,

Uns ouvem, outros não

 

Viajo na vida sem lugar reservado,

Reservo para mim, o direito de ser amado

Respeitado e defendido de tanta imbecilidade

Que vigora cheia de força

Em grande parte da nossa sociedade.

 

 

Duarte Nuno Duarte, docente de Educação Física na escola Básica de Abação

19 de novembro de 2016